Conhecendo as quatro percepções básicas da psique humana: sensação, intuição, pensamento e sentimento
Quando desenvolvemos a consciência do ego, pensamos em nós mesmos como um. Mas, à proporção que crescemos em percepção, aos poucos chegamos a compreender que somos dois — consciente e inconsciente, ego e sombra (aquele que se levanta cedo e o outro que prefere ficar na cama). Para poder conciliar os dois aspectos opostos de nós mesmos, precisamos descobrir um mediador interior , um número três capaz de correlacionar os dois de modo que trabalhem juntos harmoniosamente. Quando isso acontece, “dos três” — através da atividade do terceiro fator — vem “o um como o quarto”, sentimento emergente de totalidade, personalidade unificada que pode funcionar de novo como um, mas agora num novo nível de percepção.
Na psicologia de Jung o número três também traz o quatro, resultando em novo sentimento de unidade. Foi de Jung a observação de que todo ser humano nasce com quatro potenciais característicos para apreender a experiência pura e selecioná-la a fim de lidar com ela. Ele chamou aos quatro potenciais as quatro Junções, porque representam os meios característicos com que funciona a psique. Às duas funções por cujo intermédio apreendemos o mundo deu os nomes de sensação e intuição. Porque as duas funcionam mais espontânea do que racionalmente, caracterizou-as como Junções irracionais. E denominou as outras duas, pensamento e sentimento, Junções racionais, porque descrevem os modos com que ordenamos e avaliamos nossa experiência.
Segundo Jung, todos nascemos com o potencial necessário para desenvolver cada uma das quatro funções até certo ponto. Mas logo no começo da vida se torna geralmente manifesto que mostramos uma aptidão especial para uma função que recebe o nome de função especial. Depois descobrimos gradativamente em nós mesmos certo grau de competência em duas outras áreas, de modo que, afinal, temos à nossa disposição, de forma limitada, uma segunda e uma terceira funções. Jung chamou à segunda e à terceira funções auxiliares porque podemos apelar para elas a fim de ajudar a função superior.
A quarta função, todavia, sempre permanece relativamente inconsciente e, portanto, não se usa. Jung chamou-lhe a Junção inferior , porque não é diretamente acessível ao treinamento consciente. Por conseguinte, o seu desempenho, comparado ao das três outras funções, não inspira confiança. Porque tendemos a escolher tarefas mais fáceis, evitando as difíceis, quase todos nós, automaticamente, desenvolvemos e aprimoramos as funções mais acessíveis, deixando a inferior não reconhecida e não desenvolvida. De ordinário, nossas famílias e a sociedade reforçam essa tendência chamando-nos para servir em áreas em que demonstramos alguma competência. Em conseqüência disso a função inferior vai ficando cada vez mais para trás. Freqüentemente, só quando essa função se intromete de maneira inesperada, inadequada e imatura, nos damos conta da sua existência. Nesse meio tempo, a função superior pode ter aprendido a operar tão suave e automaticamente que perdeu a vitalidade original.
À medida que o tempo passa, começamos a ser “tipificados” de acordo com a nossa função superior e até chegamos a considerar-nos aleijados psíquicos, obrigados pela natureza a nos havermos adequadamente em apenas uma — ou no máximo duas — áreas de percepção. Aqui estão algumas das mais óbvias características de uma pessoa “tipificada” segundo a sua função superior. O intuitivo não é grande observador do mundo que o cerca. Vive primariamente num mundo de possibilidades futuras. Não se preocupa muito com a realidade presente e detesta pormenores. Depois de assistir à reunião e uma comissão, por exemplo, é provável que o intuitivo saia da conferência relativamente inconsciente de muitos pormenores, mas com uma dúzia de idéias sobre projetos que o seu grupo poderia, “algum dia”, realizar . E, mesmo assim, tenderá a deixar para os outros os problemas práticos envolvidos na obra.
O tipo cuja função principal é a sensação estaria melhor observando as realidades práticas que a comissão se veria obrigada a enfrentar , se as idéias do intuitivo fossem levadas a sério. Uma pessoa nessas condições não é dada a noções extravagantes; sua percepção sensorial está voltada para a realidade. Como bom repórter, interessa-se por especificidades: quem, o quê, quando, onde, por quê e como. Precisamente como podem os sonhos do intuitivo para o futuro ser adaptados as condições existentes? Pode um piano passar pela porta? Há dinheiro no orçamento para esse projeto? Cada um dos dois tipos reage à vida espontaneamente. O intuitivo fareja possibilidades futuras e tem palpites sem saber como chega à informação. De maneira semelhante, a pessoa em que prepondera a sensação registra automaticamente a experiência sensorial. Por exemplo: ao passo que o intuitivo se ocupa em “farejar” um futuro de ouro, o sensitivo pode estar observando que o ar, naquele momento, recende a gás, que deve estar vazando, e que isso, se não for imediatamente remediado, poderá obstar a qualquer necessidade de pensar no futuro. Em ambos os casos, as observações são imediatas e automáticas. Chegam inconscientemente e apresentam-se como fatos comprovados, a despeito de qualquer lógica ou raciocínio em contrário.
O pensar e o sentir , por outro lado, operam mais deliberadamente. O tipo pensante organiza sua experiência em categorias lógicas e as dispõe em ordem sistemática. Numa comissão, por exemplo, faz uma lista das coisas que deverão ser feitas antes da reunião seguinte, e elabora uma agenda para essa reunião. Se for preciso que haja um orador no programa, o pensante pode querer que o conferencista seja uma autoridade em seu campo.
O tipo sensível reagiria de maneira diferente. Pouco lhe faz que o orador seja uma autoridade, contanto que saiba expressar-se e apresente o material de maneira interessante. Avaliaria qualquer programa mais de acordo com o espírito do que com o conteúdo. “Sentimento”, como Jung emprega o termo, não significa emoção desenfreada. Pelo contrário, Jung caracteriza o sentimento como função racional, porque pode ser exatamente tão preciso e discriminativo quanto o pensamento. É também um meio de avaliar a experiência. Numa comissão, a pessoa sensível exerce com proficiência as funções de diretor social ou encarregado dos brindes. Ajudaria toda a gente a sentir-se à vontade mas, ao mesmo tempo, não demoraria a desencorajar qualquer procedimento que não “sentisse” apropriado à ocasião.
Faria tudo isso, provavelmente, com tato,mas poderia fazê-lo com muita firmeza e até com sangue frio se as circunstâncias justificassem. Esta brevíssima descrição dos quatro tipos de função, naturalmente, é super simplificada. Mas o ver-nos à luz deste resumo pode valer a pena em termos de autocompreensão. Mais valiosa ainda é a introvisão que um estudo dos tipos fornece no tocante ao modo com que os outros funcionam. Pode, por exemplo, ajudar-nos a compreender que uma criança do tipo intuitivo não vive perdendo coisas por ser estúpida ou desobediente: ela simplesmente não dá valor aos objetos materiais. De forma semelhante, o
fato de compreendermos que o vizinho é um tipo pensante poderá ajudar-nos a perceber que ele não está sendo desagradável de propósito quando perturba a atmosfera de uma reunião social, inserindo, sem tato, verdades que lhe parecem adequadas. Ou ainda: se o nosso marido opera por intuição, podemos evitar problemas práticos num passeio de automóvel lembrando-nos de enfiar um mapa no porta-luvas. Mais um exemplo: suponhamos que o pensar seja a sua melhor função, ao passo que o seu companheiro é um tipo sensível; se vocês dois compreenderem a situação, poderão aproximar-se de áreas de atrito mais consciente e cooperativamente. Quando sua cara-metade, num impulso, gasta o dinheiro reservado no orçamento para necessidades futuras, na compra de um vaso antigo que “ficará lindo”na sala de estar, você pode compreender que, para um tipo sensível, esse objeto tem um valor que transcende a lógica a que você obedece. Sabedor disso, poderá evitar uma colisão frontal, que arruinaria a atmosfera do momento com brigas fúteis. Mais tarde, porém, você e a sua parceira poderão ajudar a resolver problemas futuros desse tipo sentando-se juntos para revisar o orçamento e incluir nele valores importantes para ambos os tipos, sensível e pensante.
Esse esboço de discussão das quatro funções oferecerá ao leitor não iniciado algumas pistas para o descobrimento do seu próprio tipo de função. Apresento aqui, todavia, duas sugestões que achei proveitosas. A fim de descobrir a sua função superior , observe como você se comporta, ou poderia comportar-se, numa emergência:
Imagine-se numa floresta, ao cair da noite, longe da civilização e separado dos companheiros. Você se sentaria para elaborar um plano de ação? Ou tentaria intuir para onde seus companheiros podem ter ido e seguido nessa direção? Ou faria um balanço das realidades da sua posição (calor , abrigo, água, etc.) e planejaria arranchar onde elas estivessem ao seu alcance? Ou faria o quê?
como exemplo imagine uma pessoa que ganhou um piano clássico, o intuitivo pensa em como ele ficara lindo na sala do lado do sofá e a reação dos visitantes ao entrar em casa em ve-lo ali, já o sensitivo já pensa em como irá carrega-lo até em casa? o piano passa pela porta? essas coisas
Às vezes não é fácil descobrir a sua primeira função porque a superior e a primeira auxiliar estão ambas tão bem desenvolvidas que se torna difícil dizer qual delas representa o seu tipo inato. Nesse caso, às vezes, é menos trabalhoso localizar a função inferior. Um jeito de fazê-lo consiste em observar a espécie de tarefas cuja execução você adia sistematicamente porque “não tem tempo” para elas. Muitas vezes descobrirá que certos tipos de serviços são ignorados dia após dia, enquanto outras tarefas (que, na realidade, demandam mais tempo e são mais complicadas) acabam sendo executadas. Depois que você descobrir a sua função inferior , localizará com facilidade a superior , porque será, invariavelmente, a outra função na mesma categoria da primeira. Por exemplo, se a sua função inferior for irracional (digamos, a intuição), isso quer dizer que a superior será a outra função irracional (a sensação) e vice versa. Se a sua função inferior for racional (digamos, o sentimento), a superior tenderá a ser a função racional remanescente (o pensamento), ou vice-versa.
para a psicologia não existe “melhor” mas sim que a pessoa deve identificar se ela está se prejudicando em ser intuitiva e nunca agir pensando no agora nos detalhes, ou se ela está sendo extremamente sensitiva presa nos pormenores e não pensando no futuro
FONTES:
James Hillman e Marie-Louise von Franz, Lectures on Jung’s Typology (editora Anima);
Sallie Nichols, Jung e o Tarô (editora Cultrix);