Aquilo que é real, mas você não tem consciência a respeito, te controla
Uma ética essencial da psicologia bastante oposta na ética da auto-ajuda: A banalização do Mohandas Gandhi, a banalização do Buda, banalização de Jesus Cristo e até mesmo do ocultismo é a banalização de todo mundo que diz “pense positivo”, “só diga sim”, “se pensar com convicção acontece”, porém temos que observar um conceito que é:
“Aquilo sobre o qual você tem alguma consciência, você tem algum controle. Aquilo que é real, mas você não tem consciência a respeito, te controla.”
Então se você forçar a natureza e passar o dia dizendo: “a vida é só bela”, “você é só legal”, “as coisas vão sempre dar certo”, você está potencializando loucamente o seu inconsciente. E tudo o que você ignora que existe — mas existe — vai se impor a você como um sintoma.
É mais jogo entrar em contato com a “podreira” da sua vida do que fingir que está tudo bem, aquilo sobre o que você tem alguma consciência você tem algum controle (não muito) mais algum.
Uma análise serve para a pessoa se dar conta de que ela tem um inconsciente.
Então veja só, não é para esgotar o inconsciente, dominar o inconsciente, nada parecido. Quanto mais analise faz, você ganha auto conhecimento e algum auto controle, mas você também ganha consciência de que no limite você nunca vai ser conhecer totalmente.
É uma fala sobre perda, sobre falta, sobre luto. Freud achava que tudo tem a ver com desejo, tudo tem a ver com a busca pelo prazer. A gente busca pelo prazer, mas a gente não combinou com as adversidades, e tendo consciência disso, você será mais tolerante com você mesmo, e mais tolerante também com os demais, tornando o convívio muito mais possível e duradouro.
Nada mais apropriado do que os processos psicológicos que acompanham a guerra atual — notadamente a anarquização inacreditável dos critérios em geral, as difamações recíprocas, os surtos imprevisíveis de vandalismo e destruição, a maré indizível de mentiras e a incapacidade do homem de deter o demônio sanguinário para obrigar o homem que pensa a encarar o problema do inconsciente caótico e agitado, debaixo do mundo ordenado da consciência. Esta Guerra Mundial mostra implacavelmente que o homem civilizado ainda é um bárbaro. Ao mesmo tempo, prova que um açoite de ferro está à espera, caso ainda se tenha a veleidade de responsabilizar o vizinho pelos seus próprios defeitos. […] Em tempo algum, meditar sobre si mesmo foi uma necessidade tão imperiosa e a única coisa certa, como nesta catastrófica época contemporânea. Mas quem se questiona a si mesmo depara invariavelmente com as barreiras do inconsciente, que contém justamente aquilo que mais importa conhecer.
(Jung — Zurich, dezembro de 1916 )
Com a introdução acima, a carta do Taro para nossa Reflexão é a carta da Lua:
A Carta da Lua representa o individuo sendo confrontado ou desafiado aos perigos de uma “noite negra” com três feras quase que de guarda do objetivo de se seguir pelo caminho. A Carta da Lua representa o encontro do indivíduo com o seu subconsciente:
Está é a hora da verdade do herói, tempo de terror e reverência. A experiência da travessia é familiar a quantos fizeram a jornada rumo à autocompreensão. Os místicos lhe chamavam a “Noite Negra da Alma”. Em mitos e lendas, aparece como a “Jornada Noturna do Mar”, onde, tradicionalmente, como Jonas na barriga da baleira, o herói precisa vencer o monstro que pode devorar-lhe a consciência e mantê-lo cativo. Em termos psicológicos, isso lhe simboliza a vitória sobre os aspectos devoradores do inconsciente, o qual, de outro modo, engoliria a consciência do seu ego, acarretando a psicose.
A Deusa Lua é feiticeira e encantadora. Como Luna, pode levar o homem à loucura. Como Circe, sua magia transforma seres humanos em porcos e, como Medusa, o seu olhar hipnótico paralisa a vontade.
Não se deve esquecer que Ártemis, a tranquila deusa da Lua, é prima e companheira de Hécate, a negra feiticeira das encruzilhadas, cujos cães babosos podem rasgar, um por um, os membros do herói, ou remetê-lo, hidrófobo e escumante, para a noite perpétua. O motivo do cão de guarda como guardador do inferno é-nos familiar. A entrada para o inferno védico, o Reino de Yama, era guardada por dois mastins. De acordo com a mitologia grega, a entrada das regiões infernais era vigiada por Cérbero, o cão de três cabeças. Tradicionalmente, o herói não deve matar o animal; cumpre-lhe encontrar outras maneiras de chegar a um acordo com lado instintual, a fim de prosseguir na busca. Orfeu adormeceu Cérbero tangendo a lira. A Sibila que conduziu Enéias através do inferno fez dormir o cão com um bolo temperado com papoulas e mel. Hércules subjugou a fera com as mãos e, ao depois, consoante uma versão da lenda, trouxe-a de volta consigo para o mundo superior. Psicologicamente, esse mito parece dizer que o herói — na procura da individuação — não fará a travessia da realidade mundana, orientada para o ego, até a terra do eu imortal, enquanto não tiver conquistado o seu lado intelectual (inconsciente), trazendo-o para a consciência. Ignorada ou suprimida, a natureza animal do herói pode virar-se contra ele e desmembrar-lhe a percepção crescente.
A principal reflexão sobre o tal “pensamento positivo” tão propagado, é que geralmente ele é uma tentativa de esconder aquilo que não queremos enfrentar. Desejamos incontáveis coisas que apenas ansiamos sem pensar em consequências, desafios ou alicerces para as realizações. Uma frase do livro “O Segredo” (famoso por ensinar a ter pensamentos positivos) diz:
Decida o que quer. Acredite que pode tê-lo. Acredite que o merece e acredite que é possível
Eu discordo da frase acima, “decidir o que se quer” é uma decisão fácil e disfarçada de realidade, é uma prisão onde ficamos presos em nossas expectativas. Quantos tem a coragem de enfrentar na noite escura aquilo que não queremos? Sem a luz do Sol, as vezes um simples arbusto parece um terrível monstro sob a luz pouco precisa do luar.
Prefiro aquele preceito da Thelema:
Faze o que tu queres será o todo da Lei
Ao se deparar com a sua fera interior, você pode querer fugir e será a fuga a lei da sua vida. Ou pode olhar nos olhos do monstro e domestica-lo para ser teu amigo e guia.
Referências:
Pedro de Santi: Pensar Positivo Resolve? (Casa do Saber);
OBRAS COMPLETAS DE C. G. JUNG: Volume VII/1 Psicologia do Inconsciente (EDITORA VOZES);
JUNG E O TARO: UMA JORNADA ARQUETÍPICA, Salie Nicholls (Editora Cultrix);