O céu e a imaginação humana
Quando no alto o céu ainda não fora nomeado,
Nem o chão firme embaixo recebera nome […]
A cabana de junco não fora entretecida, o charco não surgira,
Quando nenhum dos deuses fora criado,
Nem era invocado pelo nome, seus destinos indeterminados –
Foi então que os deuses foram formados […]
Enuma Elish, Mito da Criação babilônico
Quando a gente olha para o céu nós não estamos vendo apenas estrelas, nós estamos vendo um testemunho da imaginação humana ao longo de quatro à seis mil anos.
Cada cultura cada grupamento humano, projetou no céu uma série de ideias, uma série de expectativas, criando uma ideia que é uma das mais bonitas na filosofia: a ideia do cosmos ou da cosmologia.
Os gregos olharam para o céu e viram aquilo que se tornaria as constelações, eles viram os seus heróis, eles viram os seus deuses, eles viram as aventuras que aconteciam em seu imaginário projetadas la no céu.
Na idade média, o ocidente também povoou o céu com seu imaginário. O céu não era o mais espaço dos deuses, não era mais a morada dos deuses, era a morada de um único deus, o Deus cristão e era também o paraíso, com a noção da eternidade da bem aventurança. E se existe um em cima, existe também um embaixo, então se decidiu que o inferno fica, ou ficava (ou fica não sei) embaixo.
Na idade moderna muitas dessas questões começaram a se transformar. Por que então nós não olhamos mais para o céu com a razão da mitologia grega, nem com a razão religiosa, mas nós começamos a olhar com a razão cientifica.
No momento em que Galileu usa o telescópio para olhar para o céu, então em vez de deuses ou de anjos eles vão olhar para o céu como um gigantesco mecanismo que pode explicar também a terra, deixa de ser um mistério mais passa a ser algo a ser explorado.
E no século XX nós chegamos no ponto mais radical porque pela primeira vez nós deixamos apenas de olhar para o céu e imaginar o que está lá, e começamos a ir até esse céu. Nós tentando o mapear, nos deparamos com uma das noções mais estranhas que a filosofia tem, e que curiosamente volta para aquela noção lá dos gregos antigos, a noção do infinito, a noção de uma coisa que não tem fim, a noção de algo que talvez não tenha nem começo.
Vivemos num universo em expansão, cuja vastidão e antiguidade estão além do entendimento humano. As galáxias que ele contém estão se afastando velozmente uma das outras, restos de uma imensa explosão, o Big Bang. Alguns cientistas acham que o universo pode ser um dentre um imenso número — talvez um número infinito — de outros universos fechados. Uns podem crescer e sofrer um colapso, viver e morrer, num instante. Outros podem se expandir para sempre. Outros ainda podem ser delicadamente equilibrados e passar por um grande número — talvez um número infinito — de expansões e contrações. O nosso próprio universo tem cerca de 15 bilhões de anos desde a sua origem ou, pelo menos, desde sua presente encarnação, o Big Bang.
Nós chegamos no limite da razão humana, por que a nossa pobre razão ela é incapaz de conceber a ideia do infinito, e ai nós chegamos paradoxalmente entre a nossa cosmologia de hoje, cientifica, matemática, física, precisa, e as cosmologias antigas. O ponto em comum, é que tanto hoje o cientista mais avançado dos programas espaciais, quanto o primeiro homem dos cavernas que olhou para o céu e resolveu registrar as estrelas, tem o mesmo problema: entender a proporção que existe entre a nossa mente e esse infinito.
Fontes:
O céu e a imaginação humana | Luís Mauro Sá Martino
Bilhões e Bilhões | Carl Sagan