Reflexão sobre se é ou não possível, ter uma base cientifica para questões espirituais.
Desde quando iniciei meus estudos sobre a área da espiritualidade em 2014, a principio apenas com a Kabbalah e hoje dia também com astrologia e tarô, pessoas próximas a mim, céticos ou apenas curiosos, sempre levantaram a questão se tais “conhecimentos” poderiam ser comprovados cientificamente, e em caso negativo, será que não são apenas superstição ou então uma nova religião moderna ocidental ligada ao esoterismo?
Primeiro preciso dizer, que se para alguns, astrologia, numerologia (geomancia), ou até mesmo o tarô são religião, não é por que essas coisas são em si religião, e sim uma falha da pessoa que coloca essas ferramentas como religião, e cerceiam as próprias vidas, as próprias decisões sobre o que essas ferramentas dizem sobre situações, modo de vida ou coisas do passado. Cada um é Senhor sobre si mesmo, e tem o poder de decidir e de mudar a própria história.
Segundo, também deve ser dito que a ignorância de muitos, enche os bolsos de alguns, já que horóscopos diários, se afastam e muito, do que realmente é e se baseia astrologia. E o mesmo vale para “videntes” que dizem poder “olhar o futuro”, a partir de determinada combinação de cartas, o que jamais o Tarô se propõe a fazer, ambos são ferramentas para que cada individuo possa entender a si mesmo, e saber quais as possibilidades, inúmeras possibilidades, que se podem seguir nas nossas vidas.
Entretanto o propósito desse texto não é corrigir os vícios e dogmas das pessoas, que por ser comodo, ou por serem ignorantes, acreditam em explicações fáceis, em vez de analisar, estudar e principalmente questionar aquilo que acreditam. Então, esse texto tem o proposito de questionar a opinião cética da ciência sobre questões espirituais.
Para um cético, algo só pode ser verdadeiro, se esse algo pode ser testado e comprovado, cientificamente. Esse teste cientifico, se baseia em testes repetitivos, analise dos dados, e uma conclusão precisa de acordo nos resultados dessas analises, e partir dessa analise teórica e quando possível da experimentação, algo pode ser cientificamente provado ou não. Logo, para a ciência é difícil comprovar cientificamente questões espirituais, afinal, como testar uma coisa, que geralmente só pode ser alcançada por fé, ou por variáveis inconstantes e difíceis de serem obtidas.
Allan Kardec (antes de ser praticamente idolatrado pelo espiritismo), criou o termo “filosofia espiritualista” que seria testar cientificamente, fenômenos ou “contatos” espirituais.
O Espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito, que, em certo casos, se torna apreciável pela vista, pelo ouvido e pelo tato.
Para um cético, defensor da ciência como a base para comprovação de realidade de qualquer “algo”, isso pode parecer uma loucura. Porém quando olhamos para a própria ciência, percebemos que dentro dela mesmo encontramos conceitos que são tão contraditórios, ou melhor definidos como dificeis de serem tão exatos nas experimentações. Como exemplo, vamos usar a área da física chamada de Mecânica Quântica.
O principio da Incerteza
A “experiência de Young” para elétrons, em particular a formação de uma figura de interferência mesmo quando o feixe de elétrons é tão rarefeitos que não há dúvida de que os elétrons chegam um a um na tela, mostra que a física dos elétrons é incompatível com o conceito de trajetória:
Não existe, na mecânica quântica, o conceito de trajetória.
Ou seja, um simples acompanhamento de uma partícula do ponto C para um ponto D, pela mecânica quântica, eu posso “assumir” que ela percorreu uma trajetória, mas essa trajetória será que realmente existe?
Suponha que eu realmente meça a posição da partícula e descubra que ela está no ponto C.
Pergunta: onde estava a partícula antes de eu realizar a medida? Há três respostas plausíveis para essa pergunta, e elas servem para distinguir as principais escolas do pensamento relacionadas à indeterminação quântica:
1. A posição realista: a partícula estava em C. Essa parece ser uma resposta sensata, e foi defendida por Einstein. Note, entretanto, que se isso é verdade, então a mecânica quântica é uma teoria incompleta, pois a partícula realmente estava em C e, ainda assim, a mecânica quântica não conseguiu dizer isso. Para o realista, a indeterminação não é um fato da natureza, mas um reflexo da nossa ignorância. Como afirmou d’Espagnat, a posição da partícula nunca foi determinada, mas sim, meramente desconhecida pelo experimentador. Evidentemente, mecânica quântica não engloba tudo. Algumas informações extras (conhecidas como variáveis ocultas) são necessárias para se ter uma descrição completa da partícula.
2. A posição ortodoxa: a partícula não estava em lugar nenhum. Foi o ato de medir que forçou a partícula a “tomar uma decisão” (mas não ousaremos perguntar como e por que ela se decidiu pelo ponto C), Jordan afirmou mais contundentemente: “As observações não somente perturbam o que está para ser medido, mas produzem o que está para ser medido… Forçamos (a partícula) a assumir uma posição definida”. Essa visão (chamada de interpretação de Copenhagem) está associada a Bohr e seus seguidores. Entre os físicos essa sempre foi a posição mais amplamente aceita. Note, no entanto, que se ela é correta há algo de muito peculiar no ato de medir — algo que mais de meio século de discussões pouco esclareceu.
3. A posição agnóstica: recusa-se a responder. Isso não é tão tolo quanto parece; afinal, que sentido pode haver em fazer afirmações sobre o estado de uma partícula antes de uma medição, quando a única maneira de saber se você está certo é exatamente realizando uma medida e, nesse caso, o resultado não tem nada a ver com o ‘antes da medida’? É metafisico (no sentido pejorativo da palavra) preocupar-se com algo que não pode, por natureza, ser testado. Pauli disse: “Não devemos nos torturar tentando resolver um problema sobre algo que não sabemos se existe ou não, assim é inútil tentar resolver o antigo problema de quantos anjos cabem sentados na ponta de uma agulha”. Durante décadas, essa foi a posição ‘defensiva’ adotada pela maior parte dos físicos: eles tentavam vender a resposta ortodoxa, porém, se você fosse persistente, eles recuavam para a resposta agnóstica e encerravam a conversa.
Até muito recentemente, as três posições (realista, ortodoxa e agnóstica) tinham partidários. Mas em 1964, John Bell surpreendeu a comunidade dos físicos ao mostrar que há muita diferença observável quer a partícula tivesse uma posição precisa (embora desconhecida) anteriormente à medida, quer não. A descoberta de Bell efetivamente eliminou o agnosticismo como opção viável e transformou em uma questão experimental a decisão sobre 1 ou 2 ser a escolha correta. Uma partícula simplesmente não tem uma posição precisa antes da medida, comportando-se quase como as ondas em um lago; é o processo de medida que insiste em um determinado número e, assim, de certa maneira, cria o resultado específico, limitado apenas pela ponderação estatística imposta pela função de onda.
E se eu fizesse uma segunda medida, imediatamente após a primeira? Obteria como resultado C novamente ou o ato de medir nos daria um número completamente novo a cada vez?
O que quero dizer com isso é: eu aceito que a ciência não considere questões espirituais por não conseguir provar cientificamente as forças que supostamente agem sobre a nossa realidade, e outros planos de realidades, ditos como “dimensões espirituais”, entretanto a ciência aceita na questão da mecânica quântica, que não sabe o que influencia uma partícula a agir de certo modo e “assume” que “forças desconhecidas” agem sobre ela (a partícula) e isso é aceitável pelo lado cientifico. O que me parece, é que a ciência não deseja estudar a questão espiritual de uma maneira ampla, não por que não seja plausível que algo como isso seja relevante, mas sim por uma necessidade (seja cultural, seja ideológica) de que a ciência ou aqueles que a estudam, não querem, seja por medo, ou por trauma, estarem próximos de algo que é tão próximo de Deus.
Fontes:
O Livro dos Espíritos (1857) — Allan Kardec
Mecânica Quântica (2ª ED 2011) — David J. Griffiths
Mecânica Quântica — Flemming, Henry