Agora que tens tua vontade, usa teus instrumentos, codifica e leva tua Vontade ao filtro da Verdade, e fale apenas a Verdade. O Verbo da ordem que distorce o estabelecido, assim criando magia.
Esta carta se refere à letra Beth, que significa casa, e é atribuída ao planeta Mercúrio. As idéias ligadas a este símbolo são tão complexas e tão multifárias que parece melhor vincular a esta descrição geral certos documentos que sustentam diferentes aspectos desta carta. O todo formará então uma base adequada para a interpretação plena da carta mediante estudo, meditação e uso.
Na carta tradicional, o disfarce é o de um prestidigitador.
Prestidigitador: adjetivo substantivo masculino
que ou aquele que desenvolveu a técnica da prestidigitação, que tem agilidade com as mãos para iludir os demais; prestímano, manipresto.
Que ou aquele que faz números de mágica; ilusionista, mágico, pelotiqueiro.
Esta representação do Prestidigitador é uma das mais grosseiras e menos satisfatórias do baralho medieval. Ele é usualmente representado com uma cobertura de cabeça de forma semelhante ao sinal do infinito em matemática (mostrado minuciosamente na carta chamada dois de Discos). Segura um bastão com uma saliência arredondada em cada extremidade, o que se ligava provavelmente à polaridade dupla da eletricidade; mas é também o bastão oco de Prometeu que traz fogo do céu. Sobre uma mesa ou altar, atrás do qual ele está de pé, estão as três outras armas elementares.
“Com a baqueta, Ele cria.
Com a Taça, Ele preserva.
Com a Adaga, Ele destrói.
Com a Moeda, Ele redime.
Liber Magi vv. 7–10.”
A carta que apresentamos aqui foi desenhada principalmente com base na tradição greco-egípcia, pois a compreensão dessa idéia foi certamente mais avançada quando essas filosofias modificaram-se reciprocamente do que em outra parte em qualquer época.
A concepção hindu de Mercúrio, Hanuman, o deus-macaco, é abominavelmente degradada. Nenhum dos aspectos mais elevados do símbolo é encontrado em seu culto. A meta de seus adeptos parece principalmente ter sido a produção de uma encarnação temporária do deus enviando as mulheres da tribo todo ano ao interior da selva. Tampouco localizamos qualquer lenda de alguma profundidade ou espiritualidade. Hanuman é seguramente pouco mais que o macaco de Thoth.
A principal característica de Tahuti ou Thoth, o Mercúrio egípcio, é em primeiro lugar ter a cabeça da íbis. A íbis é o símbolo da concentração porque se supunha que esta ave permanecia continuamente sobre uma perna, imóvel. Trata-se muito evidentemente de um símbolo do espírito meditativo. Pode ter havido também alguma referência ao mistério central do Aeon de Osíris, o segredo guardado tão cuidadosamente do profano, que a intervenção do macho era necessária para a produção de filhos. Nesta forma de Thoth, ele é visto portando o bastão da fênix, simbolizando ressurreição mediante o processo generativo. Em sua mão esquerda está Ankh, que representa uma correia de sandália, ou seja, o meio de progresso através dos mundos, que é a marca distintiva da divindade. Mas, por sua forma, este Ankh (crux ansata) é realmente uma outra forma da Rosacruz, não sendo este fato talvez tal acidente como modernos egiptólogos, preocupados com sua tentada refutação da escola fálica de arqueologia, nos fariam supor.
A outra forma de Thoth o representa primariamente como Sabedoria e Palavra. Ele segura na mão direita o estilo, na esquerda o papiro. Ele é o mensageiro dos deuses; transmite a vontade deles por meio de hieróglifos inteligíveis ao iniciado e registra os atos deles. Mas foi notado desde tempos remotos que o uso do discurso, ou escrita significou a introdução da ambigüidade na melhor das hipóteses e da falsidade na pior; representaram, portanto, Thoth seguido por um macaco, o cinocéfalo, cuja função era distorcer a Palavra do deus, arremedar, simular e ludibriar. Na linguagem filosófica, pode-se dizer: a manifestação implica na ilusão. Esta doutrina é encontrada na filosofia hindu, onde o aspecto do Tahuti de que estamos falando é chamado de Maya. Esta doutrina também é encontrada na imagem central e típica da escola Mahayana do budismo (realmente idêntica à doutrina de Shiva e Shakti). Uma visão dessa imagem será achada no documento intitulado O Senhor da Ilusão.
A presente carta se empenha em representar todas as concepções acima expostas. E, contudo, nenhuma imagem verdadeira é possível de modo algum pois, primeiro, todas as imagens são necessariamente falsas como tais, e segundo, sendo o movimento perpétuo e sua taxa aquela do limite, c, o grau de velocidade de luz, qualquer êxtase contradiz a idéia da carta: esta figura é, portanto, dificilmente mais do que apontamentos mnemônicos.