Continuando meus estudos sobre design de produto, encarei mais um desafio do “Weekly Product Design Exercise”, propostos por Artiom Dashinsky. Dessa vez o desafio era uma solução voltada para a facilitação na entrada de pessoas que tenham o interesse em publicar livros na plataforma da Amazon.
81% of Americans want to write a book. In fact, 31% of all e-book sales in the Kindle store are of self-published e-books.
Design a product for self-publishing a book on Amazon, decreasing the entry barrier to self-publishing.
[PT-BR] 81% dos americanos querem escrever um livro. De fato, 31% de todas as vendas de livros eletrônicos na loja Kindle são de livros eletrônicos auto publicados.
Crie um produto para publicação automática de um livro na Amazon, diminuindo a barreira de entrada para a auto-publicação.
Fazendo uma analise sobre o problema proposto identifiquei três pontos principais onde podemos aplicar tecnologia:
1) A maior insegurança de um autor de um novo livro (principalmente um autor independente ou alguém que está escrevendo o primeiro livro), é saber se o público alvo vai reagir bem ao história, se apaixonar pelos personagens, e o principal, ter um bom número de vendas. Afinal, o autor está investindo tempo e dinheiro nessa empreitada e dependendo do livro, escrever todos os capítulos pode levar meses ou anos;
2) O mercado editorial está bastante inchado, temos livros de tudo um pouco hoje em dia, com preços altos, o que acaba deixando os consumidores desse tipo de produto, com um dilema grande sobre comprar um livro de um autor desconhecido sem saber se a história é realmente boa, já que geralmente a crítica especializada foca nos “BestSellers” para fazer comentários;
3) Por causa das redes sociais e o grande número de informações que nos bombardeiam no dia a dia, grande parte do público não tem mais paciência de ler um livro muito grande, o que faz o engajamento cair muito, já que grande parte desse publico irá preferir leituras mais curtas, que levam menos tempo.
4) As médias e grandes editoras geralmente não arriscam investir em obras de novos autores, justamente pela falta de garantias se o livro terá um bom número de vendas, já que isso é consequência direta da aceitação do publico a cada publicação.
Pensando nisso, projetei uma solução chamada “Amazon Chapter Review”, um aplicativo onde o autor, pode dar um preview dos capítulos que estão sendo escritos, e os leitores podem avaliar a história, os personagens e dessa forma, o autor pode ir “sentindo o publico” para avaliar a aceitação da publicação, bem como o desenrolar do enredo, o que pode encoraja-lo a escrever até o final, podendo até mesmo ir adaptando a história de acordo com o retorno dos usuários, bem como abandonar o projeto ao perceber que o publico não está se engajando com o conteúdo.Para os leitores, além de participarem ativamente do processo de criação (já que opinam sobre cada capitulo), podem ir acompanhando o desenrolar da história ou simplesmente não le-las mais se perderem o interesse.
O valor pago por cada leitor para ter uma cópia dos capítulos que estão sendo escritos, seria muito baixo, já que ao invés de comprar a obra completa de uma vez pagando caro por 50 capítulos, ele vai pagando proporcionalmente capitulo por capitulo, de acordo com a produção do autor.Na função de “avaliação de personagens”, o autor verifica o que os leitores dos capítulos tem achado em relação aos personagens, visualizando um gráfico de emoções. Isso da um norte para o autor de acordo com os objetivos dele para a trama, já que ele poderia visualizar se um vilão está “queridinho” demais, ou se o um personagem secundário está agradando além do esperado aos leitores, o que pode sugerir ao autor dar mais destaque para ele etc:O autor em tempos em tempo, publica novos capítulos (se ele achar que o publico alvo dele tem se engajado com o conteúdo):Para confirmar se esse produto, é realmente um bom produto para os autores que queremos que sejam ajudados por esse novo aplicativo, apliquei um teste chamado “teoria unificada do design”:
1. Theory of Five Ws and How
Why / What / Who / Where / When and How
[PT-BR] Por que / O que / Quem / Onde / Quando e Como;
Nessa fase precisamos saber se realmente o projeto é viável no sentido de entender o cenário completo e identificar se a solução proposta se faz necessária. No nosso caso então:
- Por que: facilitar a entrada de novos autores no mercado de leitura digital, se que para isso seja necessário contar com as grades editoras ou processo burocráticos;
- O que: um aplicativo que liga autores e leitores, além de ter integração com a plataforma Kindle da Amazon;
- Quem: Autores e Leitores de livros digitais;
- Onde: mercado americano onde 81% dos entrevistadores revelaram vontade de escrever um livro;
- Quando: o momento atual do mercado é excelente, já que a plataforma da Amazon está estabelecida, e existe uma crise dos grandes players editoriais em conseguir se manter no mercado;
- Como: através de um aplicativo para Android, IOS ou PWA onde os autores enviaram os capítulos e analisariam as avaliações, e os leitores comprariam e participariam do processo de criação;
2. Mathematics Theory
A teoria da matemática é quando as variáveis do nosso produto estão com condições favoráveis de sustentação ou crescimento, por exemplo, se temos uma semente de maça, ela até pode nos indicar que um dia, teremos uma linda macieira, entretanto sem um solo fértil, água e iluminação, ela não dará nenhum fruto. Um exemplo real de mercado, as primeiras ideias do aplicativo Uber, surgiram em meados de 2005. Porém nessa época para a plataforma funcionar plenamente seria necessário que a maioria das pessoas tivessem smartphones, o que impediu que app surgisse nesse momento, vindo só posteriormente quando existem mais smartphones do que pessoas no mundo.
No caso do nosso produto do ChapterReview, temos todas as condições disponíveis:
- As pessoas que querem lançar livros no mercado digital da Amazon;
- Leitores que querem pagar menos por histórias que eles realmente irão se engajar.
- Todo o eco sistema de devices, mercado e plataformas para as transações estão todas disponíveis e prontas para uso;
3. Stanford’s Design Theory of Needs (Teoria das Necessidades de Stanford)
Enquanto as soluções são substantivos, objetos, coisas tangíveis concretas, as necessidades são verbos, pois ainda estão esperando que seu substantivo na frase apareça. Este substantivo ainda pode ser qualquer coisa, portanto, entender as necessidades também nos dá a liberdade de propor novas soluções para a mesma necessidade. Se essas são necessidades mecânicas de negócios, como aumentar a eficiência ou necessidades humanas.
O que esse item propõe, é que a solução do nosso produto, não deve ser focada apenas em uma solução técnica, e sim, que resolva um problema essencialmente humano.
4. Trifecta for Innovation (Triade da Inovação)
Toda solução tem que ser necessária pelas pessoas que enfrentam o problema (desejável), tem que satisfazer sua(s) necessidade(s) humana(s). Ele também tem que servir um propósito de negócio (sustentável para o negócio) e, obviamente, tem que ser tecnicamente possível construí-lo. Introduzido por Tim Brown em seu livro Change by Design.
5. Buddhism (Budismo)
Emptiness is form and form is emptiness é um ensinamento central de todo o budismo. Acredita-se que há fundamentalmente dois lados de tudo que às vezes é erroneamente chamado de dualismo. Na verdade, é exatamente o oposto. Um grande exemplo de que isso é verdade vem do próprio Buda. Ele disse que as pessoas sofrem porque desejam. Então, se eles não desejassem, não sofreriam. Mas e se as pessoas desejarem não desejar? Já não é um desejo?
Como você pode ver, isso se assemelha ao famoso símbolo Yang e Yin, que representa a unidade. É derivado de uma teoria hindu do Advaita Vedanta, que significa literalmente não-dual.
6. Theory of Forms (Teoria das Formas)
Abstrato vs. Concreto. Todas as soluções concretas precisam ser fundamentadas não apenas em condições mecânicas, mas também em emoções que às vezes podem parecer um pouco abstratas. Voltando ao desconhecido (abstrato), podemos então avançar na ideação (concreto). A teoria das formas foi estabelecida por Platão.
7. Taoism and Socrates (Taoísmo e Sócrates)
No livro de sabedoria de Lao Tzu, Tao Te Ching , é enfatizado que os verdadeiros homens e líderes sábios são aqueles que admitem a si mesmos que não sabem. Muito parecido com o paradoxo de Sócrates : Eu sei que não sei nada, ou seja, nunca imaginar que já conhece todas as respostas, por mais que domine um assunto ou público alvo.
8. Zen / Chan / Dyana
O zen-budismo no Japão, Chan na China ou Dyana na Índia, todos enfatizam o papel da mente do iniciante.
A mente de principiante significa evitar idéias preconcebidas, preconceitos e suposições, mesmo quando se estuda um assunto em um nível avançado. Assim como uma criança faria.
“Na mente do iniciante, há muitas possibilidades, na mente do especialista há poucas”. “Quando sua mente é compassiva, ela é ilimitada.” S. Suzuki
Esse princípio, que torna as empresas bem-sucedidas, não é começar a resolver problemas de clientes com base em suposições , mas fazer uma pesquisa qualitativa aprofundada para entender as necessidades humanas primeiro baseadas na compaixão , vacuidade, desejo, humanidade, sabedoria, … em vez de suposições ou ego.
Em outras palavras, para retroceder, admitir-se nós não sabemos e ir aprender com os usuários do problema por realmente estarem sentindo a necessidade.
Não podemos resolver nossos problemas com o mesmo pensamento que usamos quando os criamos.
Referências:
The unified theory of human-centred design and its success — the wheel of innovation, por Vladimír Korbel